Prefiro ser conhecido do que ser famoso

04/14/2024 by

Prefiro ser conhecido do que ser famoso.

Conhecido é boa praça, senta no boteco, bebe uma, chama o garçon pelo nome.

Famoso usa óculos escuros dentro do shopping, come em lugares da moda e foge de paparazzi.

O conhecido fez algo importante pra ser conhecido. Compôs uma ou mais músicas de grande sucesso, escreveu livro, descobriu algo mas pouca gente conhece de fato seu rosto.

Já o famoso qualquer um que faz dancinha na internet ou namorou/casou/pegou/traiu outro famoso já pode ser.

Prefiro ser conhecido do que ser famoso.

A fama pode subir a cabeça, o reconhecimento não.

O famoso vai pra pra fora do país para não ser importunado, o conhecido anda pra cima e pra baixo no seu bairro de chinelo e roupa amassada.

O Zeca Pagodinho é o conhecido mais famoso do mundo.

O campeão do BBB passado é o famoso mais desconhecido que existe.

Prefiro ser conhecido do que ser famoso.

O reconhecimento tem mérito, a fama nem sempre.

O famoso vai pra ilha de Caras, o conhecido vai pra onde quiser.

O famoso geralmente ganha mais grana que o conhecido…

Mas…

prefiro ser conhecido do que ser famoso.

Maria e ela

05/04/2019 by

Maria não gosta deles, gosta dela. Frequentava certos bares por causa dela. Vai somente onde pode encontrá-la.

Claro, afinal ela não é do tipo que se encontra em cada esquina, muito menos era pra qualquer um. Maria a sentia muitas vezes ácida, outras vezes vinha mais doce, mas sempre cheirosa. Ninguém beijava os lábios de Maria como ela, deixando aquele sabor. Eles não deixavam o mesmo sabor. Maria não gosta deles, gosta dela.

Existem aqueles que falavam mal de Maria por gostar dela, outros a acham mais interessante, mas a verdade é que a sociedade ainda não aceita por completo o fato de Maria e muitas outras não gostarem deles, mas gostarem dela.

Maria não se importa com o que os outros dizem, já a apresentou pros amigos, família, colegas de trabalho. Não há uma pessoa que conheça Maria que não saiba que ela não gosta deles, gosta dela.

Dela, Maria sabe o que esperar, conhece sua história, sabe onde nasceu, onde foi criada e suas características. Deles ela não sabe muita coisa, parte por desinteresse, parte por falta de informação. Maria não gosta deles, gosta dela.

Ela já esteve nas maiores alegrias de Maria e já a consolou nas piores derrotas. Deu coragem para fazer o que devia – e o que não devia – e ainda viu as lágrimas do coração partido.

Maria gosta dela, da sua brasilidade, sua história, sua cultura, sente orgulho de sua origem e de ser feminina.

Maria não gosta deles, gosta dela: a cachaça.

Chatos

05/30/2012 by

Depois de certa idade você começa a achar tudo meio chato, depois de outra certa idade você começa a achar tudo chato e meio.

Mas chato tem meio?

Qual o meio de chato? A letra “A” já diria o chato das pegadinhas, aquele que sempre quer pegar os outros numa nova que aprendeu ontem, sabe aquele que não pode ouvir falar em “Mário” ou “Alex”. Normalmente é aquele cunhado folgado ou o tio que tem dois filhos pequenos e chatos que quebram seus brinquedos de infância e depois botam a culpa no cachorro.

Cachorro chato, todo cachorro pequeno é chato, eu amo cachorros, mas poodle não é cachorro. Poodle é versão canina da galinha d’angola. E reparem que quanto menor o cão mais ele late, mais atazana a vida das pessoas, parece que ele quer compensar a falta de tamanho com excesso de latidos. Mas nem vou me estender muito falando dos cachorros porque se não vem um chato que ama todos os animais pra me bater.

O chato ativista dos direitos dos animais, ah, esse é lindo! Posta fotos diariamente no facebook sobre como os animais sofrem, é vegetariano (mas come peixe, afinal todo mundo aprendeu assistindo “Madagascar” que peixe pode comer) ,  tem 7 cachorros e 12 gatos no apartamento de 50m² que divide com a mãe que não é ativista e sempre pergunta se ele vai sair pra “brincar com os coleguinhas” quando ele sai para protestar junto com os outros chatos  ativistas.

Todo ativista é chato, todo militante é chato. Sabem por que? Porque se você não concorda com a causa dele, ele te enche até te convencer que ele tá certo. E se você concorda com a causa dele? Ele te enche o saco para ser militante junto. Isso é tão certo quanto ligar a TV num canal aberto e ver um programa do RR Soares.

RR Soares sabe quem é? É um pastor dessas igrejas neo-pentecostais de Deus é Surdo. Chato também. O neo-evangélico é o ativista próJC, é aquele que acha que todo mundo tem que acreditar no que ele acredita, acha que vai salvar sua alma do pecado, vai te livrar do inferno para você morar num lugarzinho, que ele tá alugando a módicos 10% do seu salário, lá no céu. Já perceberam que o capiroto só entra na galera dessas igrejas? Só incomoda eles e que tudo é encosto? Sua mulher te largou? Problema de encosto. Foi demitido? Problema de encosto. Dor na coluna? Problema de encosto, opa, mas isso pode ser mesmo (tum dum disss). Ah, voltando ao RR Soares, sabiam que ele já foi a pessoa que fica mais tempo no ar na tv? Pois é, dados como esse também são coisa de gente chata.

O chato que adora estatísticas, esse aqui é mais um clássico e o maior ícone dessa chatice é o chato dos chatos Galvão Bueno e sua trupe de comentaristas. Já ouvi uma vez que o “Maicon é o jogador mineiro que mais atuou pela seleção brasileira, mais até que o Pelé”. Sério, quem acha maneiro saber uma coisa dessas? Ou que o fulano tocou 458 vezes na bola com o pé esquerdo usando meião branco nos jogos de domingo chuvoso? Que o Botafogo é o time que mais cedeu jogadores para a seleção brasileira?

Botafogo é um caso a parte, a maioria dos botafoguenses que eu conheço é chata. Chato clássico mesmo, aquele de camisa pólo meio surrada, bermuda, sapato mocassim sem meia, mais pra gordinho, que bebe e conta vantagem histórias em voz alta no botequim, que fala cuspindo com aquele bafo de cerveja enquanto os filhos ficam correndo e ele diz: “deixa as criança brincá”. O Botafoguense é chato porque é o espírito do velho reclamão e a negação da situação do time. Ele quer discutir, quer contar vantagem… mas não dá. Só para não dizerem que eu pego no pé dos botafoguenses, também existem torcedores chatos nos outros times. São os botafoguenses que resolveram torcer pro Flamengo, pro Vasco, pro Fluminense… Sorte que são poucos, já fiz essa pesquisa no meu Facebook.

Chatos do Facebook. Esses mereciam um texto a parte, temos de tudo ali dentro: O amante dos animais, o ativista político que não lembra em quem votou na ultima eleição, o crente, o da teoria da conspiração, a fofa, o ativista gay/feminista, o cult, o intelectual de pocketbook, o curtidor, o ególatra, a attention whore, o sofrido, a baladeira, o poeta e por aí vai. Mas o mais chato é aquele que vai no mural dos outros pra reclamar do post deles. Ele é uma mistura do stalker  com o “mal-humorado” e os sem nada pra fazer. Não dá pra entender por que diabos alguém vai perder o tempo indo no seu mural para reclamar de um post seu? Sei lá, vai ler um livro, vai ver tv, ouvir música.

Música. Tem os chatos fãs de bandas chatas. Nada contra o gosto musical dos outros, mas que fãs chatos são chatos isso são. Sou muito mais um fã de Calipso que ouve sua musiquinha ruim na boa do que um fã do Los Hermanos que leva a banda quase como uma religião e quer te enfiar goela abaixo as barbas e as camisas xadrez dos caras. Fato é: O fã chato  de Los Hermanos de hoje é o fã chato de Legião Urbana de ontem e o de Beatles de anteontem. O true metal também é chato, o que só ouve MPB é chato, o pagodeiro de cabelo esquisito é chato…

Seu professor caxias daquela matéria é chato, o síndico do seu prédio é chato, sua vizinha do andar de baixo de 69 anos com corpinho de 75 é chata, o coroa-malhadão-tio-sukita é chato, seu primo pré-adolescente cheio de espinha é chato, sua tia avó que ainda te pergunta se já arrumou namorada(o) é chata, seu colega de trabalho que trabalha mais que você é chato, seu colega de trabalho que trabalha menos que você é chato (e preguiçoso), seu chefe é chato (e muito), aquela banda favorita de todo mundo que ninguém nunca ouviu falar é chata, sua ex-namorada é chata (e louca), seu ex-namorado é chato (e imaturo), o gordo que ocupa mais espaço no banco do ônibus é chato, a velha que anda devagar nas calçadas pequenas de Botafogo atrapalhando as outras pessoas é chata, atendente de telemarketing é chata, esse texto é chato, eu sou chato, você é chato, todo mundo é chato igual. Mas como diria o chato do Humberto Gessinger: “Mas uns mais iguais que os outros…”

02/10/2012 by

O tempo voa porque pega carona nas asas da imaginação

Festa Gramatical

11/08/2011 by

Era uma Festa Gramatical.

Ele intransitivo, ela cheia de predicados.

Encontraram-se meio que por acaso; talvez tenha rolado uma certa paronímia.

O ébrio cavalheiro, catecrético, notou a hiperbólica alegoria da moça.

Ela, disfemimicamente, apenas sorriu.

Mal o denotava.

Ele queria porque a queria… ainda bem já que os artigos eram bem definidos ali, em gênero e número!

Tratou logo de chegar adjunto, com jeitinho eufêmico.

Com seu olhar frio, a Sinestesia percebeu a ação do Pleonasmo naquela dupla de dois.

Observando também, o Epizêuxis veio, veio, veio e chegou perto, mas preferiu chamar o Polissíndeto, já que esse entende de paixões e de flertes e de amores e de ficadas e de beijos…

Ele, se achando mais-que-perfeito, desandou a ser subjuntivo;

Ela, elíptica, escondeu algo de seu pretérito.

(Soube-se mais tarde que no pretérito dela havia um sujeito oculto para quem suas orações eram coordenadas)

Ele, perante tal dama, disse: Entre
Ela: Após?
Ele:Com?
Ela:Sob?
Ele:Sobre
Ela: Contra
Ele: Dê!
Ela: Para Trás!

Enfim, radical e num surto que mais parecia um ataque com um objeto direto nela, onomatopéias voando, zoomorfização virando vírgula, mandando tomar no anacoluto…

Em meio à conjunção temporal num copo d’água, ela conclusiva, ele explicativo, ela causal, ele prolixo, ela lacônica, ele sorri, ela sorri, ele a abraça, ela o abraça, eles se beijam…

E no final de toda essa confusão, perceberam que era ela Imperfeita e ele Imperativo.

Um bloco

06/24/2010 by

Sim, a poesia
concretista é
todo o poema
com os versos
arrumados em
um bloco lírico.

Alagados

06/24/2010 by

Eu alago
Tu alagas
Ele alaga

Nós alagamos
Vós alagais
Eles alagoas

Coisas…

06/23/2010 by

Conto Contos contados
Animados, animais e ademais fulgaz, fulgazes, porque nas fases, fazes.
Quase!
Ainda bem, que tem e aquém daquilo que te convém, meu bem.
Ok
Já sei, já me mandei, porque a Casa do Rui rui,
então fui…

Êsses Ésses

02/11/2010 by

A sala saiu
Assim Assado
Só Sassaricando
No Samba
Sacou?
Sabia…
Sinceramente?
Sei lá…
Sessenta?
Sim
Séculos?
Sai pra lá!
Safado…
Sacana…
Saiu…
O Samba Saiu…

Viagem ao Centro do Rio – Final

10/24/2009 by

Boas! Resumo-lhes, aos finalmentes, o último capítulo de minha
prosopopéica desventura.

Pobre Pafúncio, que acreditou piamente, após as agruras sofridas, que o calvário estaria terminado! Desci, silmultânee à uma horda de
desembarcantes, para o que mais parecia um escoadouro humano. Era a escada para a troca de linhas. Me senti como um autômato, andando a passos de miúdo, mas já recuperado da embriaguez, na direção do vão.

Distraído, acabei atropelando uma mulher mais parecida com uma seba, que atravessou-me correndo a frente. A senhorinha gorda tentou contornar-me comigo em movimento. Como, mesmo velho e lanfranhudo, era mais vai veloz que ele, dei-lhe uma topada. Vali-me da minha robusta constituição física armada com muito toucinho e ovo rosado para meter com força os pés no chão e pespegá-la no lombo.

Tal era a falta de espírito da seba que ela varreu o chão da saguão com a boca. Proferiu impropérios, que o bom decoro não me permite relatar aqui, para a minha pessoa. Mas dei de ombros. A seba não disse nenhum que já não o houvessem dito sobre mim antes.

Desci incólume as escadas e me deparei com a massa disforme na
plataforma. Acotovelavam-se perante as linhas amarelas. A seba gritava. Dissimuladamente, me misturei aos esperantes e, oportunamente, me esgueirei para mais perto da porta. No abrir das portas, os mais menos educados poram-se a correr na direção das cadeiras vazias.

Apesar de tudo, entrei sem esforço, mesmo com uma senhorinha a apoiar o cotovelo contra minha coluna, no afã de adentrar ao trem. De pé, segurei no vão do ar-refrigerado. Nisso, um careca suado, cuja cabeça era da altura exata da minha axila exposta, foi empurrado contra mim. Não fiquei enojado. Mas tenho certeza aquele roll-on humano se sentiu mal ao inspirar o nauseabundo odor de três meses sem banho.

Enquanto viajava de volta para casa, o careca em minha axila, resumi mentalmente a história e decidi por compartilhá-la com vocês.